Oiii!! Espero que esteja tudo bem com vocês! =)
Decidi voltar rapidinho dessa vez porque achei que o momento era propício. Esse negócio de aprender a conviver com mudanças físicas diárias acaba trazendo muitas mudanças psicológicas também, assim como te faz rever conceitos que tomava por bem definidos e inalteráveis. Falando em mudanças físicas, agora sinto o bebê mexendo de lá pra cá dentro da minha barriga, externamente ainda não é possível sentir, mas eu sei bem claramente quando ele está em movimento, principalmente quando se aloja no seu cantinho preferido que é grudado na minha bexiga…rs E de vez em quando ele fica tão próximo à parede da minha barriga, logo abaixo do umbigo, que dá sentir onde começa e termina seu corpinho. Sempre penso em como funciona os efeitos da gravidade aqui dentro, não entendo como quando estou deitada de barriga pra cima ele ainda assim consegue ficar perto do umbigo, penso se o líquido amniótico influencia muito por sua densidade. Também não consigo entender as proporções de tamanhos, por exemplo como ele consegue desaparecer de vez em quando por mais que eu cutuque e faça contorcionismos pra descobrir seu paradeiro…rs Como já sei mais ou menos o tamanho dele e comparo com o tamanho da minha barriga, penso que ele vira um tatu-bola pra se esconder…rs
Tenho lido em voz alta todos os dias e curiosamente ele se manifesta mais em alguns livros do que em outros…rs Provavelmente deve ser a posição que me encontro ou a hora do dia, mas acho muito curioso ele se movimentar quando leio Chesterton mais que quando leio Ortega y Gasset ou Rodrigo Gurgel! Quais efeitos essas leituras terão nele eu não sei, mas sei que tenho me divertido muito com essa nova atividade…rs
Ah, só pra publicar também, há duas semanas fizemos um ultra-som 4D e nos deram 70% de chance de ser menino e pelo que vi/pelo que me disseram quando chutam menino é certeiro. Por isso principalmente tenho falado “ele” pra cá e “ele” pra lá livremente! rs
Enfim, volto ao foco do post, minha ignorância! rs Como fui criada na cidade, e quando digo cidade quero dizer longe de qualquer contato com a natureza, eu tenho intimidade zero com animais, plantas ou qualquer ser vivo que não seja o ser humano…rs Não uso isso como desculpa pra minha ignorância, só estou contextualizando o cenário…rs Tenho medo de pombas, de ratos, baratas, aranhas, galinhas, cavalos, porcos, enfim, pode colocar a arca de Noé na lista! Acredito que o único animal que eu não tenha medo seja cachorro e de vez em quando gatos…rs Pra entender a gravidade da coisa, tenho medo até de coelhos…rs Talvez isso devesse ser tratado, mas enquanto não tenho que encarar esse problema, toco o barco.
Há alguns meses, numa tarde ensolarada de fim de semana, enquanto passeávamos pelo centro da Valencia, vimos um protesto de pessoas que pareciam muito bravas sobre as touradas. Touradas? Ué, pensei que fosse proibido em todos os lugares do planeta, assim como penso que circo com animais foram proibidos, entre tantas outras proibições que parecem lindas e perfeitas na minha cabecinha de cearense. Isso nos chamou atenção e acabamos descobrindo que sim, existem touradas em Valencia. Quando você toma uma coisa por certa e o contrário é apresentado, você é forçado à reajustar seus conceitos rapidamente ou então permanecer na auto-ilusão e continuar vivendo no seu mundo confortável. Acho que prefiro não mais viver iludida. Acabamos decidindo ver como seria essa experiência e compramos os ingressos. Antes de chegar o dia, lembro que conversando com a Sô ela me contou como era lindo o filme do touro Ferdinando. Preferi não assistir pra não influenciar na minha opinião da tourada, ainda mais que essas animações são capazes de amanteigar qualquer coração…rs Ainda antes do dia também me disseram que drogavam os touros antes deles entrarem na arena e isso logo me fez pensar que provavelmente era anestesia pro bicho sofrer menos…ai ai, me impressiono como sou capaz de ser tão ingênua tão constantemente…rs Tudo pra aliviar minha consciência do sofrimento alheio, por mais que esse “alheio” seja de um ser irracional. E quando digo irracional não quero dizer que ele seja estúpido, mas sim que não tenha consciência de um amanhã, ou de como ficará a família dele quando ele não mais estiver por perto, ou do que ele fez para contribuir com a humanidade até então…rs Bom, finalmente havia chegado o dia, estava um sol de lascar e logo pensei “puxa, ainda bem que compramos os ingressos que diziam “sombra””. Compramos refrescos lá dentro e nos direcionamos pra arquibancada. Ao nos certificarmos do assento, tive que checar com uma moça que trabalhava lá pra nos assegurar que aquele era o lugar certo, e era, no sol. Me senti um pouco enganada…rs Bom, assim que a banda que se encontrava no topo do lado esquerdo da arquibancada começou a tocar, me deu uma certa emoção que não sei explicar. A música era bem bonita e intensa, me senti transportada à um outro tempo. Quanto a platéia, eu diria que cerca dos 40% dos assentos estavam ocupados e desses 40% eu diria que 20% era turista e 20% valencianos.
Assim que deu a hora de início do evento, vi que próximo da banda tinha um placar dizendo “1-460Kg” (touro número 1 e o peso dele) e logo que olhei pra baixo vi que uma galera vestida peculiarmente havia entrado na arena. Após essa galera se organizar, soltaram o primeiro touro. Até então eu não sabia o que veria, mas confesso que estava muito entretida com aqueles homens que encaravam de frente um bicho daquele tamanho e força, com tanta postura e tranquilidade. Pareciam literalmente dançar com o animal. Ao passar das cenas percebi que cada uma das pessoas na arena tinha uma função mas nem vou descrever tudo aqui, caso tenha curiosidade dê uma espiadinha no Youtube por “Plaza de toros Valencia” ou “Corrida de toros Valencia”. Eram 3 toureiros principais, mas o primeiro me chamou atenção em especial. Eu diria que ele tem uns 20 anos e a performance dele me impressionou bastante. Ele parecia brincar com a fera por um tempo, em uma mão a bandeira vermelha e na outra uma espada. De vez em quando soltava uns gritos, se contorcia inteiro deixando a lombar bem envergada e jogava o cabelo pra trás como num golpe! Na primeira vez que enfiou a espada no touro eu nem reparei de tão rápido que foi. Sei que entre cenas, como em uma peça teatral, o ápice da adrenalina e emoção se dá quando já sem forças, o touro cai morto e é carregado pra fora da arena por cavalos. Assistimos esse enredo por mais 5 vezes, cada toureiro matou dois touros. A única vez que realmente senti dó dentre as quase 3h de show foi quando o segundo toureiro não conseguiu enfiar a espada onde deveria e teve que tentar mais algumas vezes…mas obviamente bem rapidinho encontrei alguns pensamentos que me confortassem e trouxesse minha atenção de volta ao centro da arena. Após matar o seu segundo e último touro, o toureiro-menino se despediu carinhosamente da plateia jogando beijos, abraçando crianças e esbanjando simpatia aos 4 ventos.
Já depois no fim do evento, saímos da arquibancada e fomos ao banheiro. Ao sair, vi que os touros eram “descourados” e degolados ali mesmo num cantinho atrás da arquibancada. Os açougueiros (?) desmontavam aqueles bichos gigantes com uma faca incrivelmente amolada, parecia que cortavam manteiga! Em questão de 10min arrancaram o couro, degolaram, tiraram as entranhas e penduraram o bicho num caminhão frigorífico. Eu nunca tinha visto o abate de nenhum animal (só de peixe…rs), muito menos ele ser despelado ou esvaziado daquele jeito. Confesso que me impressionou muito também. Acabando esse segundo espetáculo, saímos da plaza de toros e lá na porta estava o toureiro-menino simpático, tirando fotos e cumprimentando os fãs com beijos e abraços.
Chegando em casa, minha cabeça parecia estar em um turbilhão, sem conseguir processar direito tudo que presenciei. Já na cama, me perguntei qual era a diferença entre touro e boi, assim como pra onde vão os cadáveres da tourada e como começou tudo isso. Acabei descobrindo que a diferença básica entre touro e boi é que um é castrado (boi) e o outro não. Também descobri que alguns açougues tem parceria com a plaza de touros e as carnes vão diretamente pra lá depois da tourada. E por último, descobri a história de como começou essa tradição e tudo fez muito sentido na minha cabeça. Pude dormir em paz.
Das conclusões que tirei sobre o dia, só conseguia pensar em como de nada sei. Se me soltassem numa selva pra sobreviver sozinha eu provavelmente morreria de medo de estar sozinha ou de susto por ver algum animal. Ao menos não daria tempo de passar fome ou de ser devorada por algum animal…rs E não é só esse instinto de sobrevivência que me falta. Me falta conhecimento de história, me falta saber como as gerações anteriores à mim sobreviviam e o quanto eles tiveram que lutar pra que um dia eu viesse ao mundo. Minha mãe conta que meu vô, pai dela, teve que enfrentar onça quando mudou pro Mato Grosso do Sul, ela também diz que ele sabia treinar cavalos, criava vários animais e sabia lidar com a natureza como ninguém. Além disso tudo ele tratava minha vó como uma rainha, fazia todas suas vontades. Meu vô abatia animais e ainda assim foi um super pai, um super marido e certamente um super vô, pena que eu não cheguei a tempo de conhecê-lo. Se antes eu tinha algum preconceito contra tourada ou toureiros, esse preconceito se foi. Nada do que vi naquele dia foi sádico ou imoral, tudo que vi foi um costume com mais de três séculos de história e eu tive a sorte de mudar de opinião antes que fosse tarde demais. =)
Acho que é isso, bjo, tchau!
Trilha sonora:
Manolo Escobar – Yo soy un hombre del campo